16 setembro 2010

Sobre aquilo

O céu estava diferente. Era azul, mas não o azul habitual, era azul-acinzentado. Tudo estava meio cinza, o céu também. Saí. Foquei no chão e assim segui.
As pessoas passavam por mim, mas não tinham rostos, eu não os via, via seus pés, mas não prestava atenção.
Foquei no chão e pensava não sei em quê. Eram tantos pensamentos desorganizados, e vinham tão rápido que muitos eram como flashes dentro da minha cabeça.
Olhei para o céu mais uma vez, e por distração caí. Se abriu um buraco na rua e eu caí, o buraco se fechou logo que caí. Fiquei no escuro, num espaço pequeno, mas confortável, silencioso. Só conseguia ouvir meus pensamentos, meus medos gritando.
Era desesperador. Fui obrigada a ficar em minha companhia. Me esqueci do que iria fazer na rua, mas não fazia diferença. Me concentrei na escuridão que não me assustava, no silêncio que se revelava e na dor que sentia, uma dor que vinha não sabia de onde e não sabia porquê. A sentira antes....
Não parecia que envelhecia, mas não sabia mais. Era obrigada a ficar em minha companhia e por isso obrigada a me conhecer. Era insuportável.
Até que um dia o chão se abriu de novo e eu consegui sair, como que brotasse. O céu era azul habitual e eu estava mais velha, mas não mais sábia, a dor era ao menos suportável e simplesmente não me reconhecia.

"É que "quem sou eu?" provoca necessidade. E como satisfazer a necessidade? Quem se indaga é incompleto." (Clarice Lispector)

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